quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Morte: Parto de Vida

"Preciosa é aos olhos do Senhor a morte de seus santos" - Sl 116,15.

O apóstolo Paulo ensina aos Coríntios (I Co 15, 35-49) um princípio que norteia toda a revelação da história da redenção humana. Fala-nos do "natural" como útero do "espiritual"; da vida como período de gestação da Vida — Bios gerando Zoé, na linguagem de C.S.Lewis.


Não sabemos bem como foi o planejamento de nosso nascimento. Refiro-me ao espiritual. Sabemos, no entanto, que nossa vinda foi acalentada, desejada e planejada; viemos ao mundo para amar e ser amados — e para ser preparados para o céu. No entanto, criamos uma cena ridícula ao não compreender nossa morte como consumação desse projeto.
Tudo pronto. Hora de nascer. O pai acompanha de perto — agitação na "maternidade". Amigos, do outro lado do portal (Lucas 16,9), prontos para "nos receber nos tabernáculos eternos"... — mas relutamos em nascer!


"Sem este cordão umbilical, como poderá a vida ser boa? Como vou me alimentar? Vou definhar até morrer de cesária! Sem este líquido aminiótico, vou ficar solto no espaço... Diz o Livro Antigo que l* fora tudo é potencializado ao infinito (que não me diz nada!). Por exemplo, que, com minhas perninhas, vou andar, correr, jogar... Dizem que com meu nariz poderei cheirar as flores (haja imaginação!) E o que é o cheiro? Me mostra! Diz o Livro que com minha boca poderei comer bifes acebolados, doces, frutas... mas deve ser horrível, sem graça... a gente tem que enfiar na boca e mastigar — o que é mastigar? Diz o Livro Antigo que poderei enxergar com os olhos, e que isso é mais ou menos como ouvir com cores! Ouvir com cores?!


"Olha, creio em tudo o que o Livro Antigo diz; sou uma pessoa de fé. Mas daqui não saio."
E enrolamos o cordão umbilical no pescoço, duvidando, de fato, de que "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam."

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